Por causa da eliminação da isenção do come-cotas sobre fundos exclusivos e offshore, os investidores mais abastados e empresários passaram a adotar a estratégia de Fundos de Investimento de Direitos Creditórios (FIDC). Enquanto o investidor pessoa física se protege da temida alíquota por meio dos Fundos de Investimento Imobiliário (FII), o segmento de direitos creditórios tem crescido desde dezembro de 2023, quando a legislação entrou em vigor.
Os FIDC têm se destacado nas carteiras de wealth management na Faria Lima. Gestores afirmam escolher esse produto por enxergarem oportunidades de superar os juros e proteger o patrimônio de famílias abastadas simultaneamente.
O aumento de casos de recuperação judicial tem levado mais empresários a anteciparem recebíveis, que é a função principal dos FIDC.
Mesmo com os esforços da CVM para democratizar o acesso aos FIDC, essa categoria continua sendo considerada “de luxo”. Estima-se que possa atingir a marca de R$ 1 trilhão neste ano, de acordo com o mercado.
Popularidade em alta? FIDC pode alcançar R$ 1 trilhão em 2025
Desde a promulgação da lei que acabou com a isenção do come-cotas sobre fundos exclusivos e offshore em dezembro de 2023, os FIDC têm crescido enquanto outras categorias de fundos têm enfrentado dificuldades.
Atualmente, os FIDC superam os Fundos de Investimento em Ações (FIA) em patrimônio líquido investido. Anteriormente, os fundos de ações superavam os de direitos creditórios por milhões de reais.
A reviravolta ocorreu no fim de 2024, quando os FIDC totalizaram R$ 618 bilhões, comparados aos R$ 585 bilhões dos FIA, conforme dados oficiais da Anbima, órgão que representa o mercado de capitais.
No entanto, segundo Fabio Fabietti, diretor de relações com investidores da More Invest, os dados da Anbima não são precisos, pois não consideram os fundos de investimento em cotas (FIC) de FIDC.
Levando em conta os fundos de cotas, Fabietti estima que os FIDC abrigam cerca de R$ 700 bilhões atualmente. Ele afirma que há uma tendência de aceleração desse montante, podendo chegar a R$ 1 trilhão em 2025.
Apesar de ter tido um início lento no ano, com dificuldades em ultrapassar a marca dos R$ 600 bilhões desde janeiro, os gestores estão otimistas em relação ao ritmo futuro.
Redução de juros pode impulsionar busca pelo trilhão
O mercado enxerga o fim do ciclo de aumento dos juros, conforme afirmou Roberto Cortese, diretor regional da Apex Group para a América Latina. Os FIDC utilizam o CDI como benchmark, pois antecipam recebíveis de crédito, e se beneficiam com a queda dos juros.
O aumento das taxas de juros na primeira metade deste ano, chegando a 14,75%, levou a indústria de FIDC a adiar projetos até maio, de acordo com Cortese.
“Acredito que é possível atingir sim a marca de R$ 1 trilhão (no final deste ano) porque a tendência é de que mais projetos saiam do papel, com maior liquidez para atrair mais investidores”, afirma Cortese.
FIDC é negligenciado pelo investidor comum e continua alvo dos mais ricos
A CVM tentou, sem êxito, tornar os FIDC mais acessíveis aos investidores comuns por meio da portaria 175, que entrou em vigor em outubro de 2023. Antes disso, somente investidores profissionais, com patrimônio líquido superior a R$ 1 milhão, podiam investir nesses fundos.
No entanto, conforme indicam dados e fontes, a portaria não teve o impacto esperado.
Atualmente, os mais de 1.300 FIDC no mercado financeiro ganharam popularidade entre investidores de alta renda, devido a estratégias para evitar o come-cotas.
Os FIDC podem se esquivar da incidência de impostos se forem classificados como “entidade de investimento” pela legislação federal. Dentro dessa classificação estão os fundos de investimento geridos por profissionais especializados, com o objetivo de obter rendimentos superiores aos juros, como explicou Thiago Amar, fundador da KP Wealth.
A mudança na legislação foi um dos motivos pelos quais os FIDC passaram a atrair mais investidores de grande porte, ponderou Amar.
“Foi natural afastar o poder de um único cotista sobre fundos de investimento. Com a alíquota do come-cotas de 15% e spreads mais ajustados no crédito, escritórios que não consideravam os FIDC passaram a administrá-los”, comentou o gestor.
A aplicação da alíquota de 15% sobre fundos exclusivos levou os grandes investidores para o segmento de direitos creditórios, de acordo com Jonas Chen, gestor de portfólio da B.Side, devido ao desmonte de fundos exclusivos.
“Assim, as gestoras precisaram se movimentar. E não podiam deixar o dinheiro parado, conforme o mandato de gestão”, acrescentou.
O capital disponível foi direcionado primeiramente para fundos de infraestrutura, com a regularização de debêntures incentivadas.
Posteriormente, com a redução dos spreads desses títulos em relação à inflação e à taxa DI, o dinheiro começou a migrar para os FIDC.
“A demanda do investidor qualificado em FIDC não diminuiu. A CVM tentou derrubar a entrada, mas o produto ainda não voou para o investidor comum”Fabio Fabietti, diretor de RI da More Invest
Os principais investidores atualmente nos fundos creditórios são fundações, que aportam grandes recursos aos gestores, escritórios de gestão de patrimônio familiar e banqueiros privados.
No segmento de varejo de alta renda, medido pela Anbima, o patrimônio alocado em FIDC chega a R$ 12,5 bilhões. Já para o varejo tradicional, mal ultrapassa R$ 2 bilhões.
Alta recorde nas recuperações judiciais torna os fundos mais atrativos
O crescente número de recuperações judiciais no Brasil tem levado empresários a buscar os FIDC.
Setores como supermercados têm adotado essa estrutura para antecipar recebíveis de compras realizadas com cartão de crédito. Essa prática ajuda a manter o dinheiro em circulação, sem a incidência de Imposto de Renda, conforme confirmou Rodrigo Andiano, analista da Mont Capital.
O mercado corporativo, voltado para empresários, possui mais de R$ 200 bilhões investidos em FIDC, de acordo com a Anbima.
Esse tipo de fundo é uma fonte importante de captação para o fluxo de caixa de empresas de médio porte. Muitos empresários possuem contatos diretos com proprietários de distribuidoras e estabelecem fundos a partir dessa conexão. Esse cenário é mais comum em regiões do interior de São Paulo, disse Andiano.
“São conhecidos como FIDC âncora, nos quais as cotas estão subordinadas a um emissor”, explicou.
“Existe um certo acordo com empresários regionais, mas vejo que o principal fator de captação vem do investidor que adquire o projeto e entende que é lucrativo aumentar o patrimônio ao atrair mais cotistas para o FIDC”.
Aspectos a serem considerados ao investir em FIDC
Os FIDC possuem estruturas com cotas sênior, mezanino e subordinada, diferente de fundos como os imobiliários. Cada tipo de cota apresenta diferentes níveis de risco e potencial de retorno do capital, de acordo com Vinicius Seixas Pereira, sócio do Pinheiro Neto.
O maior risco está associado à cota subordinada. Ao investir em um FIDC com esse tipo de cota, é possível obter retornos de 20% a 30% sobre o patrimônio líquido do fundo.
No entanto, em caso de inadimplência ou fraude em 40% dos recebíveis, o cotista subordinado será o último a receber.
“A cota sênior é a mais segura”, afirmou Jonas Chen, da B.Side. “A mezanino apresenta um risco intermediário. Já a cota subordinada absorve mais impactos, mas possui um retorno mais expressivo.”
A liquidez é um dos principais pontos a serem observados em um fundo de direitos creditórios. A maioria dos FIDC possui prazos de resgate acima de 30 dias.
No que diz respeito ao tipo de fundo, é importante que o investidor compreenda a estratégia do FIDC, como mencionou Thiago Amar.
“Os fundos podem ser classificados em diversas categorias, como antecipação de crédito consignado federal ou pagamentos financeiros, por exemplo.”
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Fonte: Bora investir
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