Depois de uma sequência de medidas de redução de gastos comunicadas pela administração dos Correios, os funcionários desejam a criação de um comitê de emergência para discutir a situação da empresa.No mais recente comunicado emitido pela estatal, foi revelado um prejuízo de R$ 2,6 bilhões no ano anterior.
Com o intuito de mudar a situação, os Correios anunciaram que pretendem poupar R$ 1,5 bilhão neste ano. Para alcançar tal meta, a diretoria estabeleceu diversas medidas:
- Pausa nas férias em 2025,
- Diminuição nos horários de trabalho com diminuição salarial,
- Mudança voluntária e temporária de carteiros e atendentes comerciais para centros de tratamento
- Obrigatoriedade de retorno ao trabalho presencial.
Em um comunicado, os Correios informaram que a aplicação do plano de redução de gastos busca fortalecer a estabilidade financeira da empresa e garantir a continuidade dos atendimentos à população.
“Embora 85% das unidades sejam consideradas deficitárias, os Correios asseguram o acesso universal de todas e todos aos serviços postais, com tarifas justas, em cada um dos 5.567 municípios atendidos”, declarou a empresa.
Outras medidas incluem a extensão do programa de demissão voluntária (PDV) até 18 de maio, mantendo os critérios existentes de elegibilidade; revisão da estrutura da sede da empresa, com redução de pelo menos 20% no orçamento de funções; lançamento de novos modelos de planos de saúde, com economia estimada de 30% para a companhia e para os trabalhadores.
O plano também prevê o compartilhamento de unidades operacionais; venda de propriedades inutilizadas; revisão de contratos; reestruturação da rede de tratamento e atendimento; otimização da malha operacional e logística; inauguração de uma plataforma de e-commerce e a captação de R$ 3,8 bilhões junto ao New Development Bank (NDB), banco dos Brics.
“Com a execução das medidas e o investimento do NDB, a estimativa é reduzir 12% dos custos operacionais e aumentar o lucro operacional da empresa em cerca de R$ 3,1 bilhões ao ano”, informou o comunicado dos Correios.
Espaço de conversa
Após o anúncio, a Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (Findetec), uma das representantes dos funcionários dos Correios, argumenta que se tornou essencial a abertura de um canal de comunicação contínuo entre a gestão da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) e seus trabalhadores.
“Mudanças estruturais só são bem-sucedidas quando debatidas com aqueles que operam diariamente na empresa. A transparência nos dados econômicos, operacionais e atuariais, compartilhados antecipadamente com representantes dos empregados, evita retrocessos e permite a elaboração de soluções alinhadas à realidade da base de atuação”, afirmou a Fentec em documento entregue ontem (14) ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A entidade solicitou uma reunião com o presidente para discutir as questões levantadas.
A Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios, Telégrafos e Empresas Similares (Fentect), outra entidade representativa dos trabalhadores da empresa, revelou que planeja lançar um Comitê em Defesa dos Correios, na próxima quarta-feira (21), na Câmara dos Deputados. Conforme a entidade, essa iniciativa conta com o apoio da Frente Parlamentar em Defesa dos Correios.
Dívidas
Além de criar o Comitê, os funcionários desejam a suspensão de qualquer ação que prejudique a qualidade dos atendimentos ou os direitos dos empregados durante o período de diálogo, e a restituição dos dividendos pagos ao governo federal entre 2011 e 2013. Nesse intervalo, aproximadamente R$ 3 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio foram distribuídos à União.
De acordo com um relatório sobre a gestão dos Correios elaborado pela Controladoria-Geral da União (CGU) em 2017, a empresa demonstrou um crescente enfraquecimento de sua capacidade de pagamento a longo prazo (liquidez) entre 2011 e 2016.
Além disso, os Correios enfrentaram um aumento do endividamento e da dependência de terceiros, e principalmente, uma redução significativa em sua rentabilidade, resultando em prejuízos progressivos a partir do exercício de 2013.
Segundo a CGU, em decorrência do aumento contínuo dos prejuízos acumulados, o patrimônio líquido sofreu uma redução de cerca de 92,63% no período.
Na visão das entidades trabalhistas, a retirada de recursos causou uma queda acentuada no capital de giro e a redução de investimentos essenciais em tecnologia, infraestrutura e logística. Elas apontam também que esses fatores alimentaram “a espiral de endividamento e obrigaram a contratação de empréstimos emergenciais”.
“A reposição desses recursos no caixa da ECT possibilitará a retomada de projetos estratégicos, como a modernização de centros de triagem e a implementação de soluções logísticas inteligentes, sem prejudicar os direitos ou benefícios dos empregados, preservando a abrangência dos serviços postais”, afirmou o ofício enviado à Presidência.
Posicionamento das Correios
Por meio de um comunicado, os Correios explicaram que as medidas anunciadas visam garantir a estabilidade econômica e financeira da empresa, com ações a curto e médio prazo, em diversas frentes.
Quanto às negociações com os trabalhadores, a empresa enfatizou que nos últimos dois anos, após intensas conversas com os sindicatos, mais de 40 cláusulas que haviam sido removidas pelo governo anterior foram restabelecidas por meio de um acordo coletivo estabelecido em uma mesa de negociação.
“A gestão atual dos Correios mantém canais abertos por meio de uma mesa de negociação permanente com os funcionários, e reafirma seu compromisso com a valorização do diálogo e o respeito às demandas da categoria”, acrescentou a nota.
Em relação ao empréstimo negociado com o banco dos Brics, a assessoria dos Correios informou que espera finalizar as negociações ainda neste ano. Segundo a nota, os recursos serão utilizados para implementar o Programa de Modernização e Transformação Ecológica dos Correios, que revolucionará o setor postal e logístico brasileiro. As negociações estão em andamento, com previsão de serem concluídas neste ano, de acordo com a estatal.
“Os investimentos viabilizarão a implementação de um extenso plano de recuperação da estatal, com foco em inovação e sustentabilidade, otimização das operações logísticas, transformação digital e fortalecimento institucional, ou seja, ações de infraestrutura e desenvolvimento sustentável alinhadas à estratégia de apoio do Banco dos Brics”, acrescentou a nota.
*Artigo atualizado às 14h16 do dia 16 de maio para incluir a posição dos Correios
Fonte: Agência Brasil
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