O Brasil e nações africanas têm um objetivo em comum: assegurar a segurança alimentar, visando eliminar a carência alimentar de suas populações, oferecendo alimentos saudáveis às famílias.
Representantes de 40 países africanos estão em Brasília, até quinta-feira (22), para participar do 2º Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural, a fim de conhecer a experiência brasileira que conseguiu erradicar a fome de milhões de pessoas.
Nesta terça-feira (20), foram apresentados aos líderes africanos os trabalhos realizados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), destacando políticas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e incentivos à agricultura familiar.
O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, explicou as políticas estatais voltadas para acabar com a fome no país.
O ministro da Agricultura e das Florestas de Angola, Isaac dos Anjos, participou do encontro, que promove uma nova capacitação em parceria com a Conab para técnicos angolanos sobre abastecimento social, custos de produção e controle de qualidade.
No ano passado, foram capacitados profissionais em temas como agricultura familiar e análise de mercado em Luanda, capital angolana.
Autossuficiência alimentar
“A autossuficiência alimentar implica, primeiramente, na produção de alimentos. Em segundo lugar, produção de alimentos saudáveis, algo crucial inclusive para prevenir doenças”, afirmou o ministro Paulo Teixeira ao iniciar sua participação no evento.
Ele realçou iniciativas como a concessão de crédito a pequenos agricultores e políticas de compras públicas e reforma agrária.
“Ademais, assistência técnica e rural e programas regionalizados”, mencionou Teixeira ao exemplificar ações incentivadas na Amazônia, como o cultivo de “produtos rentáveis para produtores, como açaí, cacau e palma de dendê.”
Agricultura familiar
A agricultura familiar gera uma diversidade de aproximadamente mil alimentos, ao passo que o agronegócio produz somente 15, conforme afirmou o ministro Paulo Teixeira –
Jose Cruz/Agência Brasil
Teixeira ressaltou que, enquanto a agricultura familiar produz uma ampla variedade de cerca de mil alimentos, o agronegócio se limita a 15 tipos de alimentos. Isso demonstra que é a agricultura familiar que fornece a diversidade alimentar necessária.
Nesse contexto, Teixeira defendeu que as políticas devem focar na variedade alimentar, incluindo a “preservação das culturas alimentares tradicionais, visando especialmente os alimentos saudáveis herdados de nossos antepassados.”
Segundo Teixeira, esta abordagem oferece uma alternativa à oferta nem sempre saudável da indústria alimentícia.
Assistência do governo
O ministro descreveu formas em que o governo ajuda os pequenos produtores a garantir a segurança alimentar da população.
“A primeira forma de ajuda é através de financiamento”, declarou o ministro. “Anualmente, são disponibilizados financiamentos, o que tem contribuído, inclusive, para os [recentes] recordes de colheita alcançados.”
Em caso de queda na colheita devido a questões climáticas, os agricultores contam com seguros. “Isso se torna especialmente importante em tempos de mudanças climáticas”, argumentou o ministro.
A segunda forma de ajuda mencionada por Teixeira são as políticas de compras públicas e estoques estatais, algo que foi retomado durante o atual governo.
“Pelo menos 30% das aquisições realizadas por entidades como Forças Armadas, restaurantes universitários e hospitais devem ser provenientes de agricultores familiares”, explicou Teixeira, acrescentando que na área da saúde também há incentivos para o uso de plantas medicinais produzidas por pequenos agricultores.
Muitas dessas compras são destinadas a escolas, mas também podem ser doadas a instituições que atendem populações vulneráveis
“Por fim, como terceira forma de ajuda [do governo federal] estão as compras governamentais que facilitam o acesso dos assentamentos de reforma agrária a novos mercados”, completou.
Angola
O ministro angolano Isaac dos Anjos recordou as parcerias entre os dois países, não se limitando à Conab, incluindo também o Ministério da Agricultura e a Embrapa.
“Recebemos visitas da Embrapa. Além disso, fiz um curso de especialização na Bahia sobre agricultura florestal. Temos aprendido muito. Agora estamos interessados nas experiências brasileiras relacionadas ao desenvolvimento industrial”, disse Isaac dos Anjos.
Angola já foi o quarto maior exportador de café, segundo o ministro. “Queremos recuperar [essa posição], porém sem repetir o modelo colonial baseado na exploração de mão de obra barata de nosso país”, acrescentou.
Reparação histórica
O presidente da Conab, Edegar Pretto, enxerga nas parcerias com países africanos uma oportunidade de o Brasil reparar parte de sua história com os povos do continente –
Jose Cruz/Agência Brasil
O presidente da Conab, Edegar Pretto, considera as parcerias com países africanos como uma forma de o Brasil reparar parte de sua história com os povos do continente, já que muitas das riquezas brasileiras foram construídas com base no trabalho forçado dos africanos trazidos contra a vontade pelos colonizadores.
“Quando estive em Angola, vi abundância de água, solo fértil e muita terra. Lá, com plantio, tudo prospera”, disse Pretto. Ele espera que, por meio dessas colaborações, o Brasil auxilie os países africanos na precificação dos produtos agrícolas, por meio de políticas voltadas para a colheita e o armazenamento.
De acordo com o chefe da Assessoria de Relações Internacionais da Conab, Marisson de Melo Marinho, o Brasil também aprende bastante com os países africanos, enquanto compartilha suas próprias técnicas de produção adaptadas às condições locais.
“Adquirimos experiência com eles, a partir das técnicas agrícolas que aplicam em suas condições”, comentou Marinho, mencionando o uso de resíduos e subprodutos de culturas como o trigo para alimentação animal como um dos aprendizados obtidos no continente africano.
Ao mesmo tempo, novas oportunidades de mercado foram abertas para o Brasil. “Ao estendermos nossas mãos, isso favorece nossa balança comercial”, adicionou.
Benefícios mútuos
Para Cléber Soares, secretário executivo adjunto do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o comércio bilateral com países africanos representa uma relação vantajosa para ambas as partes.
“Temos muito a oferecer e a receber, como no caso do intercâmbio e troca de material genético”, afirmou Soares. Ele também mencionou a introdução no Brasil de um capim africano altamente eficiente para a alimentação animal como um dos benefícios dessa parceria.
Para fortalecer essas relações, o Ministério da Agricultura tem expandido as representações agrícolas em outros países. “Passamos de 22 para 40 representações, das quais sete estão localizadas em países africanos”, destacou o secretário.
Cléber Soares acrescentou que a Embrapa estabeleceu um escritório na Etiópia voltado para parcerias com a União Africana, organização que busca integrar e promover o desenvolvimento socioeconômico dos 55 estados-membros do continente africano.
Fonte: Agência Brasil
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