Recentemente, uma nova inclinação tem se revelado no mundo empresarial: a utilização de Bitcoin como parte da distribuição de capital em tesourarias corporativas.
Para quem observa o mercado criptográfico há maior tempo, essa concepção não é precisamente inédita. Contudo o que altera neste momento é o cenário. Não estamos mais mencionando de empresas iniciantes de tecnologia ou organizações cripto-nativas. Estamos falando de companhias enumeradas em bolsa, com caixa substancial, organização de governança e responsabilidade fiduciária com milhares de acionistas.
Esse deslocamento representa algo maior do que uma mera variação. Ele aponta para uma mudança de mentalidade: a percepção de que o Bitcoin pode ser uma reserva estratégica de valor para empresas, similarmente ao que acontece com o ouro ou com títulos públicos.
Em um contexto de juros reais desfavoráveis, inflação persistente e crescente desconfiança sobre a solidez das moedas fiduciárias, o Bitcoin começa a aparecer como um antídoto descentralizado contra a deterioração de valor.
A evolução da infraestrutura cripto no Brasil
Refleti em abordar este tópico logo após assistir a uma participação inspiradora de Diego Kolling (Chief de Estratégias de Bitcoin da Méliuz) no podcast Talkenização no qual ele compartilhou sua vivência falando exatamente sobre este movimento: empresas que começam a ponderar o Bitcoin como parcela da estratégia de tesouraria.
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Isto me fez ponderar sobre o quanto o mercado cresceu para viabilizar esta escolha, e por que neste momento este tópico merece mais consideração do que nunca.
Para o mercado brasileiro, esta discussão é particularmente relevante. Por anos, o Bitcoin foi injustamente vinculado quase exclusivamente à conjecturação.
Agora, conquista estatuto de ativo institucional. E isto somente é viável porque ocorreu um crescimento considerável na infraestrutura que suporta o ecossistema: plataformas com operações robustas, custódia qualificada, contratos bem concebidos e maior segurança regulatória.
Empresas que optam por esta estratégia não estão se aventurando no desconhecido, mas sim aplicando uma visão de longo prazo sobre a preservação do capital.
Ao alocar parte do caixa em Bitcoin, estas companhias evidenciam não apenas confiança no ativo, mas também uma compreensão sobre a nova dinâmica do mercado global.
É um movimento que também instrui, tanto investidores quanto o ecossistema empresarial em si começam a olhar o Bitcoin sob outra perspectiva.
A coexistência com modelos tradicionais e os consequentes na institucionalização
E aqui entra um ponto que considero crucial: este tipo de estratégia não exclui os modelos tradicionais. Muito pelo contrário.
O Bitcoin passa a conviver com ativos mais convencionais, formando uma carteira que reúne proteção contra inflação, liquidez global e, efetivamente, um certo grau de volatilidade que necessita ser gerido.
O que transforma é que, ao assumir este risco de maneira consciente, empresas podem se favorecer da assimetria que o Bitcoin proporciona, notadamente em horizontes mais longos.
Do ponto de vista do mercado cripto, este deslocamento tem um efeito colateral relevante: contribui para a institucionalização do ecossistema.
Quando empresas bem estabelecidas começam a integrar o Bitcoin em suas estratégias financeiras, aumentam a demanda por serviços de custódia, conformidade, seguros, auditoria e educação financeira.
Perspectivas futuras: tokenização e novas estratégias financeiras
Se pensarmos adiante, é viável visualizar uma evolução ainda mais sofisticada. Atribuições em Bitcoin podem ser mescladas a produtos estruturados tokenizados, indexações híbridas com renda fixa e integração com plataformas de Open Finance.
O que começou como uma “reserva alternativa” pode se converter em um elemento estrutural das finanças corporativas.
Estamos no início de um novo capítulo, em que o Bitcoin deixa de ser exclusivamente um ativo de pessoas físicas e passa a ser também uma ferramenta de planejamento financeiro para empresas.
A tokenização pode acelerar este processo, criando mecanismos mais acessíveis e eficientes para empresas de diferentes portes adotarem este tipo de estratégia.
Quando empresas começam a considerar o Bitcoin como um ativo estratégico e não mais como uma aposta lateral, sabemos que algo verdadeiramente mudou.
Talvez estejamos diante de um marcante momento — e, como toda transformação relevante, ela não surgirá com alarde, mas com decisões silenciosas e bem fundamentadas, como a de incluir parte do caixa em uma tecnologia antifrágil.
Se esta concepção te instiga tanto quanto me instigou, você compreende que esta discussão está apenas começando.
Sobre o autor
Daniel Coquieri é CEO da empresa de tokenização de ativos Liqi Digital Assets. Empreendedor do campo da tecnologia, foi fundador da BitcoinTrade, uma das primeiras corretoras de criptomoedas do Brasil.
Fonte: Portal do Bitcoin
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