Com previsões de aumento de preços acima do objetivo estabelecido, pressionado por uma demanda intensa, o Comitê de Política Monetária (Copom) antecipa um “período prolongado” de manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano. A análise está presente na ata divulgada hoje pelo Banco Central.
A elevação recente da Selic, de 0,25 pontos percentuais, elevando-a de 14,75% ao ano para 15%, deverá ser pausada para verificar se o valor atual da taxa de juros, mantido por um período considerável, é adequado para garantir que a inflação se estabilize no objetivo estabelecido
O comitê destaca que os índices internos de inflação têm permanecido constantemente “acima do valor congruente com a meta”, o que, na opinião do comitê, reforça a percepção de que a inflação está sendo pressionada por uma demanda que requer “uma política monetária restritiva por um longo período”.
Índice de Preços ao Consumidor
Para o Copom, a perda de controle nas expectativas de inflação é uma questão preocupante que demanda “maior restrição monetária e por período mais extenso do que anteriormente seria considerado apropriado”.
No curto prazo, a situação da inflação permanece desfavorável, “porém apresentou quedas nos índices em relação ao previsto pelos analistas”. A ata destaca que os valores dos alimentos tiveram um comportamento “um pouco mais fraco” do que o esperado.
Regulação de Preços
A Selic representa o principal mecanismo utilizado pelo Banco Central para regular a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo. Em maio, o IPCA registrou uma queda de 0,26%, mesmo com a pressão de alguns alimentos e despesas com energia.
Com esse resultado, a taxa acumulada atingiu 5,32% em 12 meses, ultrapassando o limite máximo da meta estabelecida para a inflação.
No novo modelo adotado desde janeiro, a meta inflacionária a ser perseguida pelo BC é de 3%, com uma margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o patamar mínimo é 1,5% e o máximo é 4,5%.
No modelo de meta contínua, o cálculo passa a ser feito mensalmente, considerando a inflação acumulada em 12 meses.
Em junho de 2025, a inflação desde julho de 2024 é comparada com a meta e a margem de tolerância. Em julho, o processo se repete, com a contabilização a partir de agosto de 2024. Assim, a verificação é feita ao longo do tempo, não mais se limitando ao índice fechado de dezembro de cada ano.
Cenários
Para embasar suas decisões, o Copom realiza análises dos cenários.
Em relação ao contexto externo, a percepção é de que ele permanece “desafiador e particularmente incerto devido à situação e à política econômica nos Estados Unidos, principalmente em relação às suas políticas comerciais e fiscais e seus respectivos impactos”. Diante das tensões geopolíticas intensificadas, o cenário, especialmente a crise no Oriente Médio e seus reflexos nos preços internacionais do petróleo, demanda cautela, especialmente por parte dos países emergentes.
O comitê visualiza o cenário interno com “certo dinamismo”, mantendo-se nos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho. “No entanto, observa-se uma certa desaceleração no crescimento.”
Análise de Riscos
Durante a reunião, o comitê avalia os riscos, com o intuito de embasar a decisão que elevou a Selic para 15%. Segundo o Copom, esse cenário continua desafiador em várias frentes.
No cenário externo, o comitê enxerga incertezas e dificuldades, mesmo em meio a melhorias no cenário global, como a reversão parcial das tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos em suas relações comerciais com diversos países.
“A visão predominante de um cenário internacional ainda incerto e volátil permaneceu”, destacou a ata ao considerar que a direção fiscal norte-americana ainda não está clara.
Conflitos Diplomáticos
Além disso, “as tensões geopolíticas no Oriente Médio e suas possíveis repercussões sobre o mercado de petróleo também adicionam incertezas ao cenário mundial futuro”, complementou ao afirmar que esse cenário tem influenciado as decisões de consumo e investimento.
O Copom percebe que é prematuro concluir sobre o impacto na economia nacional, que, por um lado, “parece estar menos afetada pelas recentes tarifas do que outros países”.
Houve também observações de movimentações cambiais intensas, demandando maior cautela na condução da política monetária brasileira.
Crescimento Econômico
A ata destaca que os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre mostraram, como previsto, um crescimento sólido nos setores menos sensíveis ao ciclo econômico, especialmente na agropecuária.
O documento também aponta uma certa moderação nos demais setores, embora apresentem dinamismo em várias subcategorias.
Indicadores recentes de comércio, serviços e indústria sugerem um crescimento mais moderado, enquanto os indicadores de confiança permanecem baixos.
Emprego, Renda e Financiamento
“As informações mais recentes confirmam a percepção de um mercado de trabalho ativo, com geração significativa de empregos formais e queda na taxa de desemprego”, reforça a ata ao destacar que a renda e o emprego dos brasileiros têm mostrado resultados positivos.
O dinamismo do mercado de trabalho e da atividade econômica tem mantido o mercado de crédito “forte nos últimos trimestres”.
Decisão
O Copom determinou o aumento de 0,25 ponto percentual na Selic, visto que a economia ainda demonstra resiliência, dificultando a estabilização da inflação no objetivo estabelecido, além de demandar um “maior aperto monetário”.
“Devido aos efeitos defasados da política monetária, muitos impactos da taxa mais restritiva ainda estão por vir.”
Dessa forma, após um período de “rápida e firme elevação da taxa de juros”, o Copom decidiu, como estratégia de condução da política monetária, “interromper a tendência de aumento e analisar os efeitos da ação realizada, para então avaliar se a taxa de juros atual é suficiente para garantir a convergência da inflação à meta”.
Fonte: Agência Brasil
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