A busca por financiamento por parte das organizações aumentou 0,9% em março de 2025 em relação ao mesmo período de 2024. Apesar do aumento, a quantidade é inferior à dos meses anteriores, o que sugere cautela das empresas diante de uma situação de taxas de juros elevadas.
O dado está inserido no Indicador de Interesse das Empresas por Crédito, da Serasa Experian, e foi obtido de maneira exclusiva pela Agência Brasil.
O desempenho de março representa o quarto crescimento consecutivo na demanda por crédito comparado com o mesmo período do ano anterior:
- março 2025: 0,9%
- fevereiro 2025: 13,1%
- janeiro 2025: 11,3%
- dezembro 2024: 5,1%
No acumulado de 12 meses até março, a busca por crédito teve um aumento de 4,2%. Em janeiro, o resultado era um crescimento de 2,9% e, em fevereiro, de 3,9%.
Segundo a economista da Serasa Experian, Camila Abdelmalack, a desaceleração em março está relacionada diretamente com o nível elevado das taxas de juros no país.
“A redução no ritmo da procura por crédito em março reflete um ambiente de cautela por parte das empresas diante de desafios como o custo elevado do crédito e as incertezas econômicas originadas pelo contexto de taxas de juros elevadas”, afirma.
Ela destaca que o ato de uma empresa solicitar crédito, ou seja, contrair dívidas, pode servir como um impulso significativo para investimento, uma vez que pode viabilizar projetos e também a expansão das operações.
“O crédito acaba possibilitando a realização antecipada desses investimentos e contribui de forma positiva para acelerar o crescimento das empresas”, aponta.
Juros versus inflação
Desde setembro do ano passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) tem elevado a Selic, taxa básica de juros da economia. Nesse período, os juros subiram de 10,5% ao ano para 14,75% ao ano.
Por representar a taxa básica de juros, a Selic pode ser interpretada como o custo dos bancos para obterem dinheiro emprestado. Assim, a variação da Selic influencia outras taxas, tais como as dos empréstimos disponibilizados pelas instituições financeiras.
A justificativa do Copom para elevar a Selic ao longo dos últimos meses é o combate à inflação, pois aumentar o custo do dinheiro desencoraja o consumo das famílias, o que esfria a economia, levando os preços a diminuir ou subir menos.
De acordo com o BC, o impacto da Selic na inflação demora de seis a nove meses para se tornar relevante.
Em abril – dado mais recente – a inflação acumulada em 12 meses, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), chegou a 5,53%, acima da meta do governo de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
Uma consequência da política monetária restritiva (juros altos) é que as empresas se mostram menos inclinadas a buscar empréstimos para investir.
Variação
A economista da Serasa Experian avalia que a alternância nos últimos meses, ocorrendo momentos de declínio na procura e de crescimento, ainda com taxas de juros elevadas, reflete muita incerteza econômica em relação ao cenário futuro (busca por recursos), à magnitude da desaceleração econômica, e a como a taxa de juros pode afetar o consumo dos brasileiros de bens e serviços.
“Há muitas incertezas no cenário econômico que justificam essa volatilidade na procura, às vezes mais intensa, às vezes mais fraca, e a procura não necessariamente diminui, pois diversas empresas, especialmente as micro e pequenas, recorrem ao crédito como auxílio para enfrentar esses momentos”, afirma.
Porte e segmentos
O indicador da Serasa Experian – empresa de tecnologia de informações que também atua na análise de risco de crédito, autenticação e prevenção de fraudes – mostra que, em março em relação ao mesmo mês do ano anterior, o aumento de 0,9% na busca por crédito empresarial foi impulsionado pelas micro e pequenas empresas (crescimento de 1,1%). As empresas de médio e grande porte apresentaram queda de 4,8% e 4,7%, respectivamente.
“Ao olhar principalmente para as micro e pequenas empresas, a utilização do crédito, especialmente em períodos de juros elevados, está geralmente ligada a uma alternativa para melhorar a gestão financeira, aprimorar o controle do fluxo de caixa, permitindo que as empresas mantenham suas operações e obrigações em fases de receitas reduzidas, de receitas menores”, detalhou Camila Abdelmalack à Agência Brasil.
A economista acrescenta que os negócios de menor porte podem utilizar o crédito como acelerador de crescimento, porém, é uma estratégia que “funciona melhor em momentos de juros mais baixos e não no contexto atual, de juros restritivos”.
A pesquisa revela que a busca por empréstimos por empresas do setor de serviços teve um crescimento de 3,3% em março, seguido pela indústria (2,9%). Já o comércio apresentou uma redução de 2,5% na procura por crédito.
Para chegar a esses resultados, a pesquisa analisou uma amostra de 1,2 milhão de CNPJs.
Fonte: Agência Brasil
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